O menino se encontrava no quintal, devia ser meio dia devido ao molhado que escorria da sua testa. O seu coração pulava agitado pelo medo de ser descoberto por trás das pequenas plantas que cresciam. O quintal não era grande, não iria demorar para ser achado.
Gritos são ouvidos da cozinha. Seu pequeno coração acelera mais um pouco. O menino põe as mãos sobre a boca ao notar que arfava.
Da cozinha os gritos da sua mãe e do seu pai pareciam terem cessado. Ouviu baixinho a porta que sempre rangia na chegada e saída de alguém, escuta então a voz de sua vó, que repetia alto "viemos buscar Izaías".
A cabeça de Izaías, na fuga do seu próprio medo, busca se concentrar no ambiente em que se encontrava. O menino se perde nas tonalidades do verde e no bater de asas das moscas. Observa o caramujo que se esconde em sua concha. O garoto também queria um lugar só seu para se esconder. De repente, Izaías sente duas mãos que o puxam por trás, se esperneia tentando soltá-se mas logo se conforta ao notar que as mãos pertenciam a sua tia. A tia do menino observa assustada o garoto, e nervosa, chama por sua mãe que de imediato aparece. A tia então com as mãos suaves, escorre-as por entre a cabeça de Izaías, que também se assusta ao notar que havia sangue nas mãos dela, e que este sangue saíra de sua cabeça. A vó lhe questiona "Seu pai lhe bateu?" o menino balança a cabeça em negativo. Tia e vó então fazem uma caça pela cabeça do menino, aparentemente nenhum ferimento era visível, mas então de onde teria saído o sangue que já estava ficando seco em sua testa?
Izaías também não sabia. Se escondera um pouco antes atrás do pequeno arbusto devido a briga dos pais. Nos últimos tempos os conflitos se tornaram cada vez mais violentos. Os irmãos mais velhos diziam que o menino possuía culpa pelas brigas do casal. Estavam no terceiro filho, a mãe viu-se obrigada a largar os pequenos trabalhos que realizava fora de casa, e o pai, aposentado por causa da bipolaridade, mantinha a casa com o pequeno auxílio que recebia.
Izaías sentía-se culpado. O pequeno garoto negro não entendia o motivo de tanta confusão entre os adultos. Apenas sabia que sentia fome e que não tinha o papel especial que poderia trocar por comida.
A tia então lhe abraça entre o peito e lhe limpa a testa com um tecido molhado. A vó, que nunca teve jeito no falar, lhe anuncia: "menino, vá se trocar que nós viemos lhe buscar. Mas não venha com choro, que eu não estou com paciência". Izaías então observa pela última vez os detalhes de onde viveu, observa as suas mãos que já não eram lavadas há quase dois dias, observa o rosto de sua pobre mãe, que já tão saturada tinha uma expressão fixa de dor. O menino então se agarra a uma de suas pernas, e ela a sacode, como a expulsar um bicho inconveniente.
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